segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Propina libera obra ilegal no litoral, diz ex-diretor

Acusação envolve o diretor de fiscalização de São Sebastião, que nega

Imobiliária afirma que transforma mezanino em terceiro andar com suíte após receber alvará da prefeitura

Fundação Pró-Costa Atlântica/Reprodução

Imóveis de alto padrão em Juqueí, no litoral de São Paulo, construídos com um andar a mais do que é autorizado pela lei

RICARDO GALLO
DE SÃO PAULO

São Sebastião, onde o metro quadrado é o mais valorizado do litoral de São Paulo, tem um esquema de corrupção para liberar construções irregulares em condomínios de alto padrão, diz um ex-diretor da prefeitura.
A legislação local permite no máximo um sobrado dotado de mezanino -pavimento sem acesso para fora da casa que ocupa 40% da área do andar inferior.
O esquema está em converter o mezanino em terceiro andar, com cômodo aberto para um terraço, o que amplia o imóvel de modo irregular -e o sujeita a demolição.
Manuel Joaquim Fonseca Corte, diretor da Secretaria Municipal de Obras por oito meses em 2009, disse à Folha que o esquema ocorre com suborno para fiscais e para o diretor da fiscalização da pasta, o engenheiro Ruy Vidal Costa, seu ex-colega.
Diante da vista grossa da fiscalização, afirmou, o empreendedor fica livre para fazer o terceiro andar.
"A fiscalização é corrupta e o diretor é corrupto", disse, sem apresentar provas. "Se você pagar, se você tiver amigos, hoje você consegue fazer o que quiser. Não posso dizer se é pagar, mas não acredito que alguém coloque o pescoço na forca se não tiver algum troco por fora."
Questionado sobre o motivo de só ter feito a acusação agora, Corte disse que antes poderia prejudicar seu filho, que era funcionário de confiança da prefeitura.
Um fiscal de obras da ativa também relata o esquema. Ele diz que registrou boletim de ocorrência em 2010.
Costa nega a acusação.
Embora ilegal, o terceiro andar está escancarado na costa sul da cidade, onde ficam as praias de Juqueí, Boiçucanga, Maresias, Baleia, Camburi e Barequeçaba.
Prospectos de empreendimentos de até R$ 4 milhões, às vezes de frente para o mar, apresentam plantas com o pavimento extra travestido de mezanino -e as imobiliárias alardeiam o benefício.
Uma das imobiliárias afirmou à Folha, por e-mail, como funciona à burla à lei: apresenta-se o projeto do imóvel como se fosse o de um sobrado com mezanino.
Uma vez obtido o habite-se, instrumento em que a prefeitura atesta que o imóvel foi construído em acordo com as leis, dá-se início à transformação do mezanino em terceiro andar.
A informação foi dada quando a Folha perguntou como o condomínio Terramar Juquehy, com casas de R$ 1,15 milhão a poucos metros da praia, tinha três andares se a lei só autoriza sobrado e mezanino.
É quando o fiscal constata a irregularidade que a propina entra, diz o ex-diretor.

INSTITUCIONALIZADO
"Desconheço", disse o secretário de Obras, Pérsio Mendes, ao ser questionado sobre corrupção na fiscalização. Tanto os fiscais como o diretor do setor são subordinados ao secretário.
Sobre o terceiro andar, Mendes admitiu tratar-se de algo "totalmente institucionalizado" em São Sebastião.
Segundo ele, fica difícil reverter a obra ilegal quando ela já está consolidada. Cabe à prefeitura aplicar instrumentos para multar o imóvel, embargá-lo e, no limite, ir à Justiça para demoli-lo, diz.
Levantamento da Federação Pró-Costa Atlântica, que reúne associações de bairro da costa sul, aponta cerca de 110 imóveis com terceiro andar na costa sul.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

O QUE FAZER COM R$ 25 MILHÕES

Com os R$ 25 milhões contratados para a restauração do Palácio Dias Velho (antiga casa da Câmara e Cadeia Pública de Floripa), posso:
a) construir 500 casas populares;
b) comprar 1.000 veículos de passeio;
c) comprar mais de 25.000 geladeiras ou 50.000 fogões.
A ampliação da rede de água e esgoto, que está sendo implantada em São José, custará R$ 26 milhões.
E mais: 120 trabalhadores braçais teriam que trabalhar 35 anos para receber aquele valor.

Tudo muito fácil

Diário Carinense ; Coluna Cacau Menezes ; 23/7/2010

O esquema para pôr a mão em dinheiro público parece muito simples: cria-se uma Organização Não-Governamental (ONG) ou uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), sob incentivo ou não de algum político. Depois, basta propor um seminário, um workshop, um encontro internacional ou até mesmo uma reforma de um prédio público. Faz-se um convênio com um orçamento nada desprezível e o dinheiro logo cai na conta dos beneficiados. Mas nada disso acontece sem o aval de políticos influentes.

Se algo der errado, marque uma entrevista e diga que é “perseguição política” e que, mesmo que o convênio envolva a espantosa cifra de R$ 25 milhões, tudo estava sendo feito sem fins lucrativos.

Prestando um pouco mais de atenção, é fácil explicar algumas fortunas que crescem do dia para a noite neste país.

LAÇOS DE FAMÍLIA

Blog Meira Júnior ; 23/7/2010

Políticos, parentes e cargos de confiança é uma mistura indigesta e fétida. Não foi diferente com a arquiteta Cristina Maria da Silveira Piazza, sobrinha do ex-governador Luiz Henrique da Silveira. Exonerada do IPUF, tentou jogar responsabilidades sobre o Ministério Público, de quem levou um didático PUXÃO DE ORELHAS. O passado recente de Cristina Piazza, com andar de sobrinha de governador, teve outros passos trocados. No IAB-SC tentou mudar o estatuto e não conseguiu. Ainda ganhou do titio a Architectour, um pequeno rompante com sotaque francês do LHS. Dizem as más-línguas que se mantém professora por imposição do titio. E chegou ao IPUF, ponto estratégico para muitos interesses, a mando de LHS. Resultado...

Tudo muito fácil

Diário Catarinense ; Coluna Cacau Menezes ; 23/7/2010

O esquema para pôr a mão em dinheiro público parece muito simples: cria-se uma Organização Não-Governamental (ONG) ou uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), sob incentivo ou não de algum político. Depois, basta propor um seminário, um workshop, um encontro internacional ou até mesmo uma reforma de um prédio público. Faz-se um convênio com um orçamento nada desprezível e o dinheiro logo cai na conta dos beneficiados. Mas nada disso acontece sem o aval de políticos influentes.

Se algo der errado, marque uma entrevista e diga que é “perseguição política” e que, mesmo que o convênio envolva a espantosa cifra de R$ 25 milhões, tudo estava sendo feito sem fins lucrativos.

Prestando um pouco mais de atenção, é fácil explicar algumas fortunas que crescem do dia para a noite neste país.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Diário Catarinense ; Rafael Martini ; 22/7/2010

EFEITO DOMINÓ RONDA O CASO IPUF

A sustentação política do atual homem forte do governo Dário Berger, o secretário José Carlos Rauen, se complicou ainda mais ontem, depois que a ex-diretora de Planejamento do Ipuf, Cristina Maria Piazza (foto acima), foi categórica ao afirmar que tanto o secretário quanto o prefeito Dário Berger tinham pleno conhecimento da íntegra do convênio entre o DiverSCidades e a prefeitura. Cristina, que foi indicada por Rauen para o cargo, se queixou de sequer receber uma ligação para comunicar o motivo da sua exoneração. Ela também confirmou que o filho do secretário, José Carlos Rauen Filho, era o responsável pela elaboração do planejamento financeiro do projeto de restauração. Com tamanha proximidade, fica difícil aceitar o desconhecimento alegado pelo secretário sobre o episódio.

***

A situação de Rauen na prefeitura repete um triste roteiro do governo Dário Berger. Todos os escolhidos para atuar como espécie de primeiro-ministro do governo caíram. Sempre por casos polêmicos. No primeiro mandato, Aurélio Remor, secretário de Obras e amigo de Dário, não resistiu à Operação Moeda Verde, em 2007. O vereador Juarez Silveira, líder do governo à época, também sucumbiu. Mário Cavallazzi foi indicado para dar um salto de qualidade no turismo da Capital. A pressão em função da árvore de Natal e do show de Andrea Bocelli foi tamanha que ele pediu pra sair. Rauen disse, ontem, que seu cargo é de confiança do prefeito e está à disposição, mas não vê motivos para se afastar. A expectativa, agora, é pelo retorno do prefeito da sua viagem de férias. Confira a íntegra da entrevista de Cristina Piazza no blog www.diario.com.br/visor.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Blog De Olho na Capital (Cesar Valente) ; 21/7/2010

Ministério Público revela os bastidores da “enrolation”
Por Cesar Valente ⋅ 21 de julho de 2010, às 18:55

A arquiteta Cristina Maria da Silveira Piazza, na sua coletiva de hoje (ver também a nota anterior a esta), tentou envolver o Ministério Público, mais especificamente o promotor Rui Arno Richter, da 28ª Promotoria de Justiça da Capital, na enroladíssima armação de recuperação do prédio da antiga Câmara de Vereadores (e cadeia) de Florianópolis. O promotor, preocupado com o uso indevido de seu nome, tratou de divulgar uma longa nota de esclarecimento.

E da leitura da nota afloram coisas muito interessantes: a prefeitura, de fato, abandonou aquele prédio histórico e estava praticando a mais deslavada “enrolation”, do tipo clássico: “não faz nem sai de cima”. E aí surge essa figura multifacetada, a Piazza, que como delegada do Instituto dos Arquitetos do Brasil, denuncia o abandono do prédio e pede providências. Depois, já como diretora do Ipuf, promete captar recursos. Magicamente, como diretora de uma Oscip, faz convênio com ela mesma, diretora do Ipuf, para uma restauração que não saiu do papel. E agora diz que o MP aprovou esse conveniente convênio. O promotor diz que não foi bem assim.

Recostem-se e leiam com atenção. Vale a pena conhecer os bastidores de mais esse caso que abrilhanta a gestão Berger.

“ESCLARECIMENTOS

A atribuição da 28ª Promotoria de Justiça da Capital limita-se à matéria de Defesa do Meio Ambiente, que abrange a área de Patrimônio Cultural;

Em razão disso, tramita na 28ª Promotoria de Justiça inquérito civil público (ICP) que tem por objeto o restauro da Antiga Casa de Câmara e Cadeia, imóvel tombado pelo Município de Florianópolis, que após deixar de ser sede do Poder Legislativo Municipal, salvo eventos esporádicos e não autorizados pelo Serviço de Patrimônio Histórico (SEPHAN) do IPUF, entrou em desuso e apresenta risco de deterioração se não tomadas as providências necessárias por seu proprietário, o Município de Florianópolis;

O primeiro documento deste ICP trata-se de uma representação ao Ministério Público pedindo providências quanto à suposta descaracterização do prédio histórico protocolizado em janeiro de 2007 pelo Instituto de Arquitetos do Brasil – IAB, cuja Presidente do Departamento de Santa Catarina e signatária do documento foi, à época, a arquiteta Cristina Maria da Silveira Piazza;

Desde então, em reiteradas oportunidades o IPUF apresentou documentos que descreviam as intenções de recuperação do patrimônio sem que objetivamente se tivesse avanço;

Em novembro de 2007 foi expedida Recomendação nº 017/2007/28ªPJ no sentido de que o senhor Prefeito Municipal e Fundação Franklin Cascaes promovessem as necessárias reformas no imóvel, devendo ambos consultar e respeitar as determinações técnicas emanadas do SEPHAN/IPUF, tendo recebido como resposta ofício da Fundação Franklin Cascaes que anunciava estar preparando projeto para captar recursos para o restauro da referida edificação serem repassados a empresa que viesse a ser contratada pela Prefeitura para realizar as obras;

Em dezembro de 2007, a Secretaria Municipal de Governo encaminhou cópia de Proposta de Restauração, Reutilização e Conservação da Antiga Casa de Câmara e Cadeia, elaborado por historiadores, arquitetos e restauradora, alguns vinculados ao IPUF, outros ao Instituto Histórico e Geográfico de SC e a FCFFC/Casa da Memória;

Havendo notícia de novos usos inadequados do imóvel, foi convocada reunião com o IPUF e Procuradoria-Geral do Município (PGM) para 26 de junho de 2008, na qual foi informado o provável interesse arqueológico que demandaria prospecção de solo precedente ao restauro propriamente dito, assumindo os órgãos municipais compromissos no sentido de captar recursos junto ao Governo do Estado para a os trabalhos de prospecção arqueológica preliminar, inspeção relativas aos itens emergenciais de conservação do prédio e devolução das chaves do imóvel à PGM para prevenir novos usos não autorizados;

Em outubro de 2008 o IPUF comunicou a tomada de medidas de emergência para evitar a deterioração do imóvel e a não viabilização de recursos para o projeto de prospecção arqueológica;

Novamente questionado pelo Ministério Público sobre o destino do patrimônio cultural em questão, o IPUF, em julho de 2009 enviou “Plano de Ação para a Restauração” da casa e novo relatório sobre seu estado de conservação (a partir desta data os ofícios são assinados também pela arquiteta Cristina Maria da Silveira Piazza na condição de Diretora de Planejamento);

Em outubro de 2009 a 28ª Promotoria de Justiça enviou novo ofício ao IPUF, para que fossem apresentados documentos que comprovassem ações efetivas de cumprimento do plano anunciado;

Sem resposta, o Ministério Público notificou o IPUF, PGM e o senhor Prefeito Municipal para reunião em 04 de março de 2010, que teria como finalidade formalizar Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) em que houvesse comprometimento com prazos de execução do restauro necessário;

Foi nesta última data que compareceram dois Procuradores do Município, o Assessor Jurídico da SMDU, advogada do IPUF e a arquiteta Cristina Maria da Silveira Piazza, que portava na ocasião autorização do Prefeito em exercício para representá-lo, uma vez que o Chefe do Poder Executivo encontrava-se em viagem a Seul, Coréia do Sul;

No mesmo ato, a então diretora de planejamento do IPUF, a fim de demonstrar avanço na questão do restauro, apresentou o denominado “Termo de Parceria nº 001/2010” entre o Município de Florianópolis e o Instituto Nacional para o Desenvolvimento das Artes, Arquitetura e Turismo das Cidades (“DIVERSCIDADES”), além de cópia do Estatuto do instituto;

Dada a insuficiência de tais documentos para instruir o TAC almejado, visto que isoladamente a documentação apresentada não informava que ato formal autorizara o Município a firmar tal parceria nem previa datas específicas para as ações de restauro, foi assinalado derradeiro prazo para que a diretora de planejamento do IPUF e no ato representante do Prefeito Municipal apresentasse ao Ministério Público, além de plantas e projetos já elaborados, do projeto de restauro, cronograma das obras, também cópia de processo administrativo, respectivo à tramitação das proposições técnicas que culminaram na formalização do Termo de Parceria com o que se pretendida esclarecer determinadas contradições dos documentos, entre elas o fato de que o Termo de Parceria estava assinado pelo Diverscidades por Simara Callegari, enquanto na sua introdução constava como presidente da entidade a arquiteta Cristina Maria da Silveira Piazza;

Extrapolando os trinta dias concedidos, apenas no dia 17 de junho o IPUF apresentou parte daquilo a que se comprometera, e nenhum processo administrativo que justificasse a formalização do Termo de Parceria;

Em contato telefônico, a arquiteta Cristina Maria da Silveira Piazza solicitou nova reunião presencial para prestar esclarecimentos adicionais, a ser agendada na segunda quinzena do mês de julho, sob o argumento de que um técnico especializado que desejava participasse do ato somente a partir de então poderia se fazer presente;

O término da primeira quinzena deste mês de julho coincidiu com o anúncio pela imprensa da exoneração da arquiteta Cristina Maria da Silveira Piazza da função de diretora de planejamento do IPUF e também da anulação do Termo de Parceria em foco;

Em seqüência de seu trabalho em defesa do Patrimônio Cultural de Florianópolis, a 28ª Promotoria de Justiça notificará o Município e o IPUF para que apresentem cronograma de restauro do imóvel em questão para, se possível, resolver a questão de interesse de toda a cidade extrajudicialmente. Caso contrário, ingressará em juízo com as ações cabíveis para obter comando judicial no mesmo sentido;

Por fim, do histórico extenso de tratativas acima mencionado é possível perceber que em nenhum momento o Ministério Público foi “consultado” sobre a regularidade ou conveniência de formalização do termo de parceria invocado como solução para o caso (e nem poderia ser, já que lhe é vedada a atividade de consultoria a órgãos públicos), termo que agora se sabe nunca foi publicado em órgão oficial de imprensa, e que a sua mera apresentação como justificativa para o encaminhamento do restauro do imóvel tombado não significou e não obteve qualquer espécie de ratificação pelo Ministério Público, que se reservara a analisar tão logo os esclarecimentos prometidos fossem prestados;

Assim, convém ressaltar que o mérito da ocorrência ou não de ato de improbidade administrativa ou atuação irregular do instituto presidido pela arquiteta Cristina Maria da Silveira Piazza não será tratado, evidentemente, no âmbito desta Promotoria de Justiça de Defesa do Meio Ambiente, e sim naquelas com atribuição para tanto, que já instauraram os cabíveis procedimentos de investigação sobre estes aspectos do caso.”

Florianópolis, 21 de julho de 2010.

Rui Arno Richter
28º Promotor de Justiça da Capital


A patética entrevista coletiva da sobrinha do ex-governador serviu para afastar as nuvens que toldavam a nossa visão e transformar em fundados indícios algumas hipóteses:

1. A arquiteta, nos seus dias de glória, não tinha pejo de se apresentar, por onde andava, como “sobrinha do Luiz Henrique”. Por mais que seus méritos profissionais a qualifiquem para o cargo, essa ligação que ela fazia questão de enfatizar dava uma aura política à nomeação que, afinal, tinha mesmo sido política, como ocorre com todos os comissionados. Sua exoneração, portanto, deve ter uma lógica semelhante à da nomeação: a sobrinha do LHS pode ter dançado porque Dário e LHS não dividem mais a primeira classe dos vôos internacionais.

2. O pretexto para a exoneração é apenas um pretexto. Os esquemas são montados de comum acordo, com perfeito conhecimento de todos os envolvidos (ninguém, nesses ambientes onde todos desconfiam de todos e todos querem saber quem leva o que, assina sem ler um convênio para arrecadar R$ 25 milhões). Tirar o corpo fora quando necessário ou quando se pressente que vai dar merda, é recurso rasteiro de bandos que não hesitam em “queimar” companheiros para preservar os líderes.

3. Alguém precisa dizer, urgentemente, à população catarinense e em especial aos agentes políticos e servidores comissionados, que dinheiro de renúncia fiscal é dinheiro público. O inefável Mário Cavallazzi também volta e meia vinha com essa história de que “não teve dinheiro público na festa de Natal”. Agora ela ressurge, com a alegação que o dinheiro para o restauro da antiga cadeia não era público porque seria “captado via incentivos da lei Rouanet”. No caso da arquiteta, deve ser cacoete herdado do tio, que também tratava assim os fundilhos que montou para que o dinheiro dos impostos não chegasse ao tesouro estadual.

Continua, porém, sem resposta a principal pergunta: o que teria levado Dário Berger a fazer o que fez e da forma que fez? Qual o gatilho (ou catalisador) que teria disparado o processo de interrupção do esquema, com a consequente cremação pública da sobrinha do LHS? Não teria sido, com toda a certeza, um ataque de honestidade repentina, uma crise ética, uma erisipela cívica que afetou a consciência de tão ilibados operadores da vida pública municipal, fazendo-os ajoelhar no milho e admitir que trilhavam o caminho do mal. Até porque nenhum deles admitiu ter lido o convênio antes de assiná-lo. E todos estão fazendo cara de paisagem.

Mas assim são as coisas. O prefeito Dário Berger vai para o Disneyworld descansar de fazer nada e quem fica com cara de pateta somos nós, os eleitores/contribuintes deste município dos casos e ocasos raros.

EM TEMPO

Acho que agora não tem mais volta: a restauração daquele prédio histórico terá que devolve-lo à sua função original. A cidade precisa urgentemente dessa cadeia com paredes de um metro de espessura, reforçadas com óleo de baleia. E sua localização, na praça, é muito adequada. Permite que o eleitor/contribuinte possa ver, nas grades, os malversadores do dinheiro público.
Cangablog (Sérgio Rubim) ; 21/7/2010

Ex-diretora do Ipuf desmente prefeito, secretário e procurador

Foto chupada do blog do Rafael Martiini. Estava sem crédito.

"Não tenho rabo preso com ninguém. Este convênio era um presente para a cidade e presente não precisa de licitação" (Declaração sem noção de Cristina Piazza em coletiva à imprensa)

Em entrevista coletiva na manhã desta quarta-feira, a ex-diretora do Ipuf ligada à entidade contratada para restaurar o Palácio Dias Velho (antiga Câmara) desmascarou o prefeito de Florianópolis, o secretário do Desenvolvimento e Meio Ambiente e o procurador-geral do município.

Ao contrário do que estes vêm afirmando à imprensa desde o início da semana, tanto a direção do Ipuf quanto a prefeitura sabiam da existência do termo de parceria, revelou a ex-diretora. Tanto que, segundo ela, há pareceres jurídicos atestando a legalidade da contratação do chamado Instituto Diverscidades, do qual a ex-diretora é presidente, para receber a fábula de R$ 25 milhões para restaurar o prédio histórico da Praça XV de Novembro, com direito a R$ 2,5 milhões de comissão.

- É o mesmo 'modus operandi' utilizado no caso da árvore e do Bocelli. Tudo é armado como se fosse dentro da legalidade, inclusive com pareceres jurídicos justificando o injustificável, depois, quando o escândalo vem à tona, ninguém leu, ninguém sabia e a culpa era da funcionária que fez tudo sozinha. É uma piada. O prefeito precisa se explicar e os secretários, deixar o governo imediatamente - afirma o vereador João Amin.

Durante a entrevista, os jornalistas puderam testemunharam um verdadeiro teatro, recheado com afirmações que, de tão absurdas, beiram a infantilidade.

Como , por exemplo: a ex-diretora do Ipuf, sobrinha do ex-governador, afirmou que não assinou o termo de parceria, e, que isso, afasta qualquer ilegalidade. O que ela “esqueceu” de informar foi o fato de seu nome constar da primeira página do contrato como sendo a responsável frente às obrigações contraídas no contrato.

Outra: ela disse que não há recursos públicos, já que a verba seria captada por intermédio da Lei Rouanet. Ora, qualquer aluno do ensino médio sabe que a lei federal autoriza captação mediante renúncia fiscal, ou seja, ao invés de recolher determinado valor em impostos aos cofres públicos, o empresário direciona para apoio a algum projeto.

Portanto, trata-se de dinheiro público, sim, proveniente de impostos que deixaram de ser recolhidos e investidos em prol da coletividade para abastecer o cofre e o bolso de entidades nebulosas.

O vereador João Amin já denuncioou as falcatruas e pediu providências ao Tribunal de Contas e Ministério Público.

UMA QUESTÃO DE ÉTICA

Leitor atento questiona:

O superintendente do IPUF e o secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano atribuem o cancelamento do contrato de parceria para o restauro da antiga casa de Câmara e Cadeia a "questões éticas", e ao fato de que "não teriam percebido" que a sua própria diretora de planejamento era a presidente do Instituto DiverSCidades [deu no dc]. O mais incrível é que esta "distração" vinha ocorrendo há tempos, antes mesmo de ser assinado o tal contrato. A Prefeitura, o próprio IPUF e o Sindicato dos Engenheiros, coincidentemente presidido por aquele secretário, estavam juntos com o DiverSCidades e com outra empresa da diretora, a Shopconsult, na realização do 1º Fórum das Américas de Mobilidade nas Cidades, ocorrido em março deste ano [deu no site do forum]. Fica no ar uma pergunta singela: Como pessoas tão distraídas em relação ao que é público podem estar ocupando cargos tão importantes para a cidade?

Confira nos sites:

DC:
http://www.clicrbs.com.br/diariocatarinense/jsp/default.jsp?uf=2&local=18&newsID=a2976023.xml&channel=&tipo=1&section=Geral

Forum:
http://www.mobilidadenascidades.com.br/saiu.php

Arquireta
leva "mijada" do Visor no DC:

Arquiteta adia entrevista coletiva

A arquiteta Maria Cristina Piazza transferiu para amanhã, às 10h, a entrevista coletiva que daria hoje à tarde para explicar sobre a assinatura do convênio entre o Instituto DiverSCidades e a prefeitura no valor de R$ 25 milhões. Provavelmente diante da dimensão do episódio e na tentativa de evitar algum suposto constrangimento, a ex-diretora de planejamento do IPUF constituiu advogado para acompanhar o caso e contratou até uma assessoria de imprensa. É direito dela marcar data e horário para falar. O que não pode é confirmar para vários jornalistas, ainda no início da tarde, que iria dar as explicações hoje e depois simplesmente desligar o telefone celular. Se não é um ato imoral ou ilegal é, no mínimo, desrespeitoso com os profissionais de comunicação. Além de dar ainda mais margem às especulações em torno do convênio e suas ramificações.

domingo, 18 de julho de 2010

Cangablog (Sérgio Rubim) ; 18/7/2010

sábado, 17 de julho de 2010

A arquireta e a casa de Cadeia de Florianópolis

Que eu saiba quem trabalha com picareta é trabalhador braçal, ajudante de pedreiro e outros trabalhadores menos preparados intelectualmente. Mas Florianópolis tem coisas que até a própria razão desconhece. Aqui até arquiteto põe a mão na ferramenta e a usa como intrumento de espertice.

É o caso da arquiteta diretora de Planejamento do Ipuf, Cristina Piazza. Temos aí um caso exemplar de uma arquiteta picareta. Pois a profissional, da equipe do não menos "braçal" Dário Berger, resolveu picaretear justamente no chão onde ganha o pão. No IPUF.

Casa de Passagem de conhecidos picaretas a istituição mais uma vez tem o seu nome manchado e incluido na bacia das almas dos centros de maracutaias e picaretagens da capital.

Informações da imprensa tradicional e que também pululam pela internet dão conta que a arquireta, Cristina Piazza, foi demitida pelo prefeito Dário Berger por ter feito convênio para restauração da antiga Casa de Câmara e Cadeia, realizado com o Instituto Diverscidades, que é dirigido por ela mesma.

O valor do trabalho de restauração do prédio foi de R$ 25 milhões, dos quais R$ 2,5 milhões seriam destinados ao Instituto da arquiteta. Bem, mas qual seria o trabalho deste instituto? Pegariam no pesado? Fariam projetos? Obras?

Não, o dinheirinho suado do contribuinte que nos é tomados de várias formas como multas de trânsito, iptu e outros impostos municipais iria para o bolso da arquiteta apenas por ter feito a intermediação do negócio.

Interessante atentar para um pequeno detalhe: o filho do secretário José Carlos Rauen, que assina o documento juntamente com o prefeito, também faria parte da OCIP de Cristina Piazza. Interessante essa misturança né? Mas será que só agora o prefeito se deu conta da malandragem e demitiu Cristina Piazza? É da turma da Dilma: assinou sem ler!

Picaretagem da boa!

Já que o projeto é de restauração da antiga Casa de Câmara e Cadeia poderiam também devolver ao prédio a sua função original que era prender meliantes e bandidos. Já que o sistema prisional de SC está um caos com falta de vagas, quem sabe se construa ali um cubículo especial para picaretas do dinheiro público.

Fica a sugestão.

Abaixo documento assinado pela prefeitura e pela Ocip da arquiteta. São três páginas. A primeira com o nome da arquiteta, a segunda o valor da obra e da comissão, a terceira a assinatura do prefeito, secretário e da presidente da entidade. Clique na imagem que aumenta.


sábado, 17 de julho de 2010

EXONERAÇÃO

Diário Catarinense ; 17/7/2010

A diretora de Planejamento do Ipuf, Maria Cristina Piazza, foi exonerada do cargo pelo prefeito Dário Berger, sob a alegação de ajustes técnicos. Um dos nomes fortes do governo na área de planejamento, a arquiteta era uma das responsáveis pela coordenação dos principais projetos do município como Plano Diretor Urbano e
Ontem, o Visor teve acesso a um convênio assinado no início do ano, entre o município e o instituto DiverSCidades, presidido pela própria Piazza, para a elaboração do projeto de recuperação da antiga Câmara de Vereadores, na Praça XV de Novembro. A proposta está orçada em R$ 25 milhões e consta, no acordo, o repasse de 10% para o DiverSCidades, a título de contrapartida, equivalente a R$ 2,5 milhões.
A ex-diretora viajou ainda na quinta-feira, quando foi comunicada do afastamento, a exemplo do prefeito, que foi para o exterior. O secretário José Carlos Rauen, da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano (SDMU), diz que o convênio será revisado segunda-feira e falou em falta de ética. Tomara que todos retornem o mais rápido possível para que os motivos sejam esclarecidos.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Os culpados


Diário Catarinense ; Moacir Pereira ; 20/5/2010


Tem gente querendo responsabilizar São Pedro pela carga dágua que desabou sobre a Grande Florianópolis e atingiu outros municípios de SC. Foi, realmente, chuva demais. Mas há muitos culpados, que não a natureza, nesta sucessão de desgraças que estão se abatendo com uma estranha frequência em território catarinense.

A lista é grande e dela salvam-se poucos. Começa pelas ações desastrosas contra o próprio solo. Qualquer desmatamento que se execute pode trazer graves consequências, especialmente em zonas acidentadas. É uma questão elementar, quase matemática, sobre a qual o poder público e os próprios atores dão pouca atenção. Intervenções que desprezam recomendações técnicas e agridem o meio ambiente costumam produzir de imediato seus terríveis efeitos.

Os loteamentos espalham-se como formigueiros ao redor das cidades. Na maioria dos casos, sem planejamento mínimo. Implantação ditada, quase sempre, apenas pelo interesse econômico. Há denúncias em municípios bem próximos de Florianópolis em que os empresários com projetos residenciais são chantageados abertamente. Ou pagam comissão ou não há licenciamento. Quem se corrompe pelos 20% dispensa exigências ecológicas e urbanísticas. E os empreendedores que desejam implantar um plano habitacional mais humano e não se submetem à corrupção administrativa têm seus processos arrastados por meses e anos sobre as mesas dos burocratas municipais.


Invasões


Diário Catarinense ; Moacir Pereira ; 20/5/2010


Contam-se nos dedos os condomínios e núcleos habitacionais que dividem racionalmente o espaço a ser comercializado de casas e prédios das áreas verdes e de lazer e convivência. A ganância acaba sempre sacrificando o espaço público, os canteiros floridos, os parques e os jardins. Há exemplos às dezenas, talvez centenas, espalhados pelo Estado. Na Grande Florianópolis, o Kobrasol tem sido citado como o mais desastrado projeto de vida urbana. O verde do aeroclube era para ser um bairro de casas familiares. Transformou-se em prédios de seis andares, depois uma concentração irracional de prédios de 12 pavimentos. E agora, com mais de 15. Virou um amontoado de gente, sem área verde, sem parques e sem qualquer atividade artístico-cultural. Feito o estrago, vão todos, depois, exigir estes equipamentos da prefeitura.

Partidos de esquerda costumam condenar estes especuladores. Mas praticam insanidades piores quando incentivam invasões ilegais. A Favela do Siri, no Norte da Ilha, representa um dos exemplos catastróficos destes absurdos patrocínios políticos. Não impediram a ocupação das dunas e depois não permitem remoções. O mesmo se repete nas áreas de risco ao longo dos rios, lagoas e morros das cidades catarinenses. Aí, a negligência se acentua no incentivo de políticos inescrupulosos em busca de votos e na omissão do poder público. Cada município tem seu próprio cenário, variável apenas de acordo com o perfil geográfico. Finalmente, as comunidades que provocam sua própria destruição. Não têm educação nem consciência.

Costumam transferir tudo para o poder público, como se milagroso fosse na prevenção de desastres. Querem prevenir tragédias? Convoquem os técnicos, protejam a natureza, humanizem as cidades, impeçam invasões, saneiem os loteamentos, eliminem a corrupção nas prefeituras e acabem com essa politicalha. Eles perderão votos. Mas todos salvaremos muitas vidas.

Os cinquentões e cinquentonas certamente lembram de um personagem do Chico Anísio, o Coronel Pantaleão Pereira Peixoto, mentiroso profissional, que para assegurar a seus interlocutores a veracidade do que estava dizendo, perguntava à sua velha (que estava tricotando meio distraída): “É mentira, Terta?” e ela respondia, com convicção, “verdaaade!”

Pois bem. Há quem diga que existem prefeitos que adoram uma enxurrada, uma enchete, um deslizamento, porque assim podem recorrer ao tal decreto de calamidade pública, maravilhoso abre-te-sésamo que permite contratações sem licitação, compras sem muita explicação e principalmente oculta, sob o manto da emergência, que muitas vezes é real, as cotações, as comissões, os sobrepreços e a caixinha, obrigado.

Mas é claro que o prefeito, mesmo aquele que está reforçando seu caixa de campanha, dirá que se trata de um esforço hercúleo para garantir a segurança de seus munícipes. Como ouvi no rádio, de dois prefeitos, “a hora é de cuidar das pessoas”. São ágeis e solícitos nessa hora de dor, chicoteiam seus auxiliares para que produzam imediatamente toneladas de relatórios que permitam o tal decreto e, em seguida, saem em busca das verbas estaduais, federais, internacionais, unicamente para promover o bem estar social, a estabilidade econômica, a saúde da família e o progresso do município. Olhando feio para quem suspeita da lisura de suas intenções, eles perguntam, com voz tonitroante: “É mentira, Terta?”

E aí seus fãs, loucos por uma sobrinha de caixa, gritam em uníssono: “verdaaade!”

Passada a tragédia, tudo volta a ser como dantes: os dutos fluviais são colocados (quando o são), com diâmetro menor que o recomendável, as ocupações são toleradas desde que o ocupante transfira seu título eleitoral, os rios, canais e outros escoamentos são assoreados, apertados, esquecidos e/ou cobertos, criando todas as condições para que, na próxima “chuva acima da média”, a história se repita. E aí sou que quem pergunta: é mentira, Terta?

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Matéria de pauta

Diário Catarinense ; Cacau Menezes ; 12/4/2010

A pesquisa não se limita a jornalistas. Até 1980, grandes áreas na Ilha de Santa Catarina eram consideradas de preservação permanente (APP). Tinham grande importância ecológica, tais como mananciais, encostas com mais de 45º de declividade, manguezais, matas ciliares, dunas... Leis de uso do solo, Plano Diretor ou legislação federal impediam sua ocupação desordenada. Na maioria das vezes, os proprietários tinham, no máximo, escritura de posse!

De repente, esses espaços começaram a ser comercializados. Na Armação do Pântano do Sul, onde a maré vem reduzindo a faixa de praia, muitas construções se deram em dunas. O mesmo se sucedeu em inúmeras outras localidades.

Como se deu esta ocupação?

Quem alterou o zoneamento?

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Terra de ninguém

Diário Catarinense ; Blog cacau Menezes ; 25/2/2010

Curiosamente a Câmara Municipal voltou de seu recesso e ninguém falou absolutamente nada, sobre o Defeso do Itacorubi, sobre a votação vergonhosa e fraudulenta ocorrida no final de 2009. Desde então, as construtoras colocaram “as manguinhas de fora” e aproveitaram o período, sem maiores incômodos ou manifestações da população, para acelerar vertiginosamente as obras dos prédios neste bairro. Aquela construtora que literalmente deve odiar a cidade e seus moradores, pois não poupa nada de área verde, e está fazendo os três condomínios, composto de 9 prédios, com 15 andares cada, totalizando em torno de mil e cem apartamentos, na Rodovia Admar Gonzaga, quase ao lado do CEPON, parece que não há quem freie. Enquanto isso, o pessoal do Itacorubi se desespera, vendo tamanha barbaridade num terreno tão pequeno para a grandeza da obra, mas, não tem a quem recorrer. Se o seu conhecido e ganancioso construtor puder, logo deve construir também em marte ou na lua. Help, cadê as autoridades?

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

O COMBATE À CORRUPÇÃO

Blog "O Jumento" ; Lisboa ; 25/12/2009

«O estudo do Eurobarómetro da Comissão Europeia sobre "as atitudes dos europeus face à corrupção", publicado por ocasião do Dia Internacional contra a Corrupção (9/12), refere que 93% dos portugueses consideram que a corrupção é um "grande problema" do país. E, questionados sobre os sectores onde julgam existir mais situações de subornos e abuso do poder, os portugueses apontam em primeiro lugar os políticos ao nível nacional (64%), seguindo-se os políticos a nível local (58%) e regional (57%). E o índice de percepção de corrupção da Transparency International também não é nada animador, pois Portugal caiu sete posições nesse ranking em apenas dois anos. Brevemente, Portugal será objecto de uma nova avaliação sobre as regras e controlo de financiamento político por parte do Grupo de Estados contra a Corrupção, do Conselho da Europa (Greco). Daqui resulta que os dados fornecidos pelos organismos da União Europeia não são nada favoráveis à imagem do poder político em Portugal.

Internamente, assiste-se a uma tentativa de operar reformas no âmbito da transparência no exercício do poder político, como, por exemplo, impedir os autarcas arguidos de se recandidatar, iniciativa que remonta já ao tempo de Marques Mendes, mas tal proposta acabou por ficar na gaveta. Porém, recentemente, o Governo e o CDS-PP tomaram a dianteira sobre tal questão. O secretário de Estado da Administração Autárquica, José Junqueiro, anunciou que será apresentada no Parlamento uma medida legislativa que aponta no sentido de impedir candidaturas e consequente eleição de autarcas pronunciados em tribunal por actos praticados no exercício das suas funções. Também o CDS-PP avançou com idêntica proposta que visa impedir os candidatos a cargos do poder local de ir a eleições e sejam suspensos dos seus cargos, se já tiverem sido eleitos, caso sejam condenados, ainda que essa condenação seja apenas do tribunal de 1.ª instância. A diferença das duas propostas parece estar no momento processual que conduz à suspensão: para o PS, é a pronúncia, e para o CDS é a condenação em 1.ª instância, ainda que não transitada em julgado.

Junto do Tribunal de Contas foi criado o Conselho de Prevenção da Corrupção e muito recentemente o PSD propôs a criação de uma "Comissão contra a Corrupção" a funcionar no Parlamento. Como se vê, iniciativas e comissões não faltam, mas enquanto os tribunais não cumprirem a sua missão de condenar ou absolver rapidamente os arguidos, de pouco ou nada valerão as alterações da lei e criação de comissões e mais comissões.

O poder autárquico, considerado como uma das melhores realizações resultantes do 25 de Abril, gozou inicialmente de uma óptima imagem junto dos portugueses, mas à medida que as condenações em tribunal iam surgindo e as inúmeras suspeitas de muitos outros casos vieram a público, essa imagem começou a degradar-se, como o demonstra o referido Eurobarómetro. De repente, os casos Freeport e Face Oculta vieram também lançar suspeitas no âmbito do poder central, processos que envolvem, alegadamente, uma rede dedicada a negócios fraudulentos. Cresce todos os dias a lista das ilegalidades denunciadas pelo Tribunal de Contas, relativamente ao Governo e às empresas públicas, que não hesitam, apesar disso, em continuar adoptar as mesmas práticas e até agora aparentemente impunes.

A corrupção não é apenas um problema de ética ou de justiça social, é sobretudo um problema de eficiência económica, motivo pelo qual o fenómeno deve ser combatido implacavelmente pelos tribunais, pelos cidadãos e pelos políticos honestos que são a maioria, numa mobilização geral e sem tréguas. Os dados que se conhecem sobre a extensão da corrupção em Portugal reclama uma espécie de "limpeza" na vida política, de modo que o poder democrático seja exercido como um verdadeiro exemplo de transparência e de lealdade dos eleitos perante o povo. Não mais o povo deverá pactuar com políticos sem princípios de rigor e de ética ou que não imponham esses princípios de conduta aos seus subordinados, mantendo muitas vezes, com o seu silêncio, práticas altamente censuráveis.»

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

A última dos vereadores da capital

Cesar Valente ; 15/12/2009

A Câmara de Vereadores de Florianópolis não pode ser considerada, a rigor, uma caixinha de surpresas. O prefeito tem ali sólida maioria e uma estreita aliança com o presidente da Casa, o que torna virtualmenet impossível aprovar ou rejeitar qualquer proposta que contrarie os desígnios superiores.

Portanto, por mais que a minúscula oposição esperneie, faz-se sempre o que seu mestre mandar. Mesmo que, depois de concluída a votação, a bancada do governo queira atribuir à oposição alguma dificuldade ou intenção malévola. Esse argumento não tem fundamento lógico e só deve ser levado a sério quando, por algum motivo especial, o prefeito deixar de ter, sob controle rigoroso, a maioria dos vereadores. Mas há muitos casos em que as votações são por unanimidade, com a “oposição” se abraçando à situação, irmanados sabe-se lá por quais motivos.

Ontem à noite, a Câmara votou um projeto que, por si só, é de deixar os cabelos das pessoas de bem em pé. “Regulariza” o que antes estava irregular (ou clandestino!), jogando por terra as normas anteriores e considerando imbecis e idiotas tanto os otários que seguiram as normas, quanto os servidores municipais que tentaram fazer as normas serem seguidas (e certamente foram dissuadidos, a cada passo, pelos vereadores, aos longos das legislaturas):

“Por unanimidade (16 votos), a Câmara de Vereadores aprovou na sessão da noite de hoje (14/12) o projeto de lei 950/2008, do Executivo, prevendo que as construções irregulares, clandestinas e não adequadas para atividade originalmente legalizada existentes no município até 31 de dezembro de 2006, poderão ser aprovadas para fins de concessão do “habite-se”. O projeto aprovado considera irregular a construção, reforma ou ampliação de edificações executadas em desacordo com o projeto aprovado pela Prefeitura. Por clandestina considera a construção, reforma ou ampliação de edificações executadas sem a aprovação dos setores competentes municipais. Segundo informações da Prefeitura, 61% dos imóveis em Florianópolis não estão regularizados e funcionam com alvarás “ex-oficio”, de caráter precário.

Pra mim (que posso estar completamente errado, uma vez que sou praticamente um ancião ranzinza e de paciência escassa), é um escândalo. Afirmam, os senhores vereadores e o senhor prefeito, que, quando a maioria comete um crime, uma contravenção, desobedece alguma norma ou lei, esse fato deve ser considerado relevante para que seja concedida anistia ampla e irrestrita.

A seguir esse raciocínio, se 61% da população estiver sendo processada por roubo, caberia votar alguma coisa que revogasse o mandamento “Não roubarás” e toda a legislação que impeça a apropriação dos bens alheios.

Não estou exagerando. Foi exatamente isso que foi aprovado: quem instalou uma empresa em área residencial, em vez de ser expulso e tirado dali, como previa a lei e como esperavam os vizinhos, terá oportunidade de legalizar a invasão. Chance de ouro de lavar a contravenção, limpar as impressões digitais do crime e que se danem os 40% que estão adequadamente instalados. Quem mandou serem burros e confiar na lenda de que lei é pra ser cumprida. Dane-se a lei.

Sempre poderemos confiar que apareça uma dupla caipira, tipo Dário & Gean, disposta a fazer vistas grossas aos irregulares e clandestinos. Afinal, são todos boa gente, eleitores confiáveis. Se a lei incomoda, mude-se a lei.

IMPACTO NA CABEÇA DA VIZINHANÇA

E hoje de manhã, pra completar o pacote natalino da Câmara, o projeto que previa estudos de impacto de vizinhança para novos empreendimentos no município, foi rejeitado:

“Por não ter obtido a maioria absoluta de 11 votos, equivalente a dois terços, foi rejeitado em sessão extraordinária da Câmara de Vereadores, na manhã de hoje (15/12) o projeto de lei complementar do Executivo 952/2008 que instituía o Estudo de Impacto de Vizinhança. Se fosse aprovado, o EIV e o Relatório do Estudo do Impacto de Vizinhança (REIV) seriam exigidos pelo poder público municipal nas concessões de licenças para construção, ampliação ou funcionamento dos empreendimentos e atividades privados ou públicos previstos em área urbana ou de expansão urbana. A votação ficou empatada em 7 votos a favor e 7 contra, com uma abstenção e uma ausência.”

Pelo número de votos dá pra notar que alguma coisa aconteceu no percurso. Além dos minguados vereadores “de oposição”, também votaram contra vereadores da base de apoio. Os maledicentes certamente imaginarão que algum acerto ficou pendente no caminho, motivando o amuo e o voto contra. Os mais maledicentes ainda, dirão que foi proposital: não interessa ao prefeito criar dificuldades aos novos projetos. Com a rejeição, os empreendedores ganham tempo para ir tocando suas vidinhas. Livres, leves e soltos.

De qualquer forma, nenhum drama: mesmo quando o impacto de vizinhança vier a ser aprovado, não há necessidade de cumprir a norma. Basta deixar a coisa pendente, ir empurrando com a barriga, até que mais adiante se perdoe todos aqueles que estão irregulares. Tal como foi feito com os alvarás ex-ofício.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Vereadores e construtoras devem derrotar Florianópolis de novo


Cangablog (Sérgio Rubim) ; 14/12/2009


O Estudo do Impacto de Vizinhança, projeto do Executivo para Florianópolis, começa a ser votado hoje na Câmara de Vereadores da Capital. Depois da decisão porca dos vereadores de derrubar o projeto do defeso da Bacia do Itacorubi a expectativa da população não ';e nada otimista.
Comentários na cidade são de que está todo o mundo comprado pelo lobby da construção civil, que funcionou a contento na votação anterior. Pelo projeto a ser votado hoje todos os empreendimentos ou atividades que mudem o zoneamento ou o sistema viário terão que se submeter a apresentação de estudo de impacto.
A não ser que os vereadores estejam fazendo o joguinho de "uma no cravo e outra na ferradura" o projeto deve rejeitado com a ganância imobiliária derrotando a população da cidade.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

A Ilha vai ao fundo

Diário Catarinense ; Moacir Pereira ; 4/12/2009

A Câmara Municipal de Florianópolis rejeitou, por 11 votos a 4, o projeto do prefeito Dário Berger que fixava moratória por dois anos na construção de edifícios residenciais e comerciais na chamada Bacia do Itacorubi (Trindade, Itacorubi, Agronômica, Parque São Jorge, Córrego Grade e Jardim Itália). Encerrou-se uma triste novela que estava para completar dois anos de tramitação na dinâmica e eficiente Câmara de Vereadores. Uma novela que teve de tudo um pouco: teatro de Ionesco, lobby escancarado, circo político, manobras partidárias e jogadas de esperteza. Tudo movido por múltiplos interesses, menos o público.

Uniram-se contra a proposta progressistas, peemedebistas, comunistas, socialistas e todos os “istas” do Legislativo. Arquivando o projeto, sem oferecer qualquer alternativa de um substitutivo que o aprimorasse, para proteger os cidadãos desta escandalosa e avassaladora ação imobiliária, muitas vezes predatória e descontrolada. E que avança, oxigenada pelo lucro, desconsiderando os prejuízos irrecuperáveis na vida da população.

O prefeito Dário Berger e o vice João Batista Nunes criticam os vereadores que sepultaram a matéria. Mas, nas internas, a rigor, não se sentem derrotados. Detêm maioria tranquila na Câmara para autorizar o governo a construir mais duas torres de prédios no Centro Administrativo, em área supercongestionada. Mas não conseguem sensibilizar os mesmos aliados e correligionários na moratória. Dário e João Batista contam com maioria para autorizar a venda da penitenciária, onde subirá uma nova selva de concreto e tijolo, mas não revelam o mesmo poder para aprovar o defeso. Os opositores dizem que montaram uma encenação. Dário defende-se:

A indústria da construção civil é mais poderosa do que se imagina.

Submergindo

A Ilha de Santa Catarina está afundando. Não submergindo pelas águas do Atlântico. Mas na falta de mobilidade, no crescimento desordenado, na falta de áreas verdes e de lazer nos bairros e distritos, no esfriamento das relações humanas e, sobretudo, nos engarrafamentos que engolem o precioso tempo de todos. O que aconteceu no João Paulo, anos atrás, foi um escândalo. Estão lá vários edifícios, formando uma barreira de concreto. O que ocorre no Córrego Grande é um atentado ao bom senso. O saudoso prefeito Bulcão Vianna asfaltou o trecho entre o Morro da Lagoa e o campus da UFSC. Na imensa área do Córrego Grande não tinha um único edifício. Decorridos 19 anos, centenas de prédios vão se amontoando, com aquela mesma estrada estreita de acesso. A água está faltando em vários condomínios. Não existe saneamento básico. Parques infantis? Parecem luxo do passado. Conchas acústicas, empreendimentos públicos para atividades culturais e comunitárias? Deixa pra lá! Na estrada antiga do Itacorubi, que desemboca perto da sede da Fiesc, é de chorar. Uma via estrangulada, atolada de prédios construídos. E, pior, outras dezenas em construção. Sem mínimo planejamento, com sistema viário estrangulado.

A Ilha está afundando, e a plateia a tudo assiste passiva e alienada, onde os espectadores se transformam em palhaços. Com risco de morrerem afogados. Não nas águas do oceano. Mas sufocados pelas limitações do espaço físico, pelo gás carbônico dos congestionamentos, pela falta d’água, de planejamento e pela imprevidência.