sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Santa Catarina transformada em Alagoas

Blog “A política como ela é” ; 9/1/2009

Antigamente não era sim.

Os governantes daqui eram da estirpe de Lauro Müller, Felipe Schmidt e Hercilio Luz; os cinco Ramos, Vidal, Aristiliano, Nereu, Aderbal e Celso; os Konder, Adolpho e Antonio Carlos; os Bornhausen, pai e filho; Jorge Lacerda, Ivo Silveira e Colombo Salles, para ficar nos anos 70.

Nessa época o barriga-verde era um provinciano, não havia cidade grande, a maior parte morava no campo e, até os anos 50, o acesso às profissões liberais implicava em mudar-se para Porto Alegre, Curitiba, São Paulo ou Rio de Janeiro.

Apenas os ricos iam à faculdade e quando os pobretões chegavam lá constituíam a exceção confirmando a regra. O lugar, entretanto, era idílico, apesar de muita gente viver miserável e ignaramente do berço ao túmulo.

Mas os políticos eram de primeira.
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Nos 80 e 90 Santa Catarina e a capital mudaram.

Houve um desenraizamento - gaúchos, paranaenses, brasileiros de todos os quadrantes, os catarinas do campo e das cidades do Interior, migrantes involuntários, expulsos pela miséria e falta de oportunidade, modificaram a geografia humana, inflando o Litoral e os vales até o pé da serra.

O nativo da Ilha, p. ex., experimenta o que o paulista conheceu no fim do sec. XIX: é um estranho na própria terra.

Em 20 anos o ambiente cultural e político mudou radicalmente.

E, ao contrário dos 60 e 70, quando os migrantes que cruzavam a ponte eram a elite do Interior, vindos para trabalhar no serviço público ou para frequentar a UFSC, nos 80, 90 e atualmente, junto com estudantes, profissionais liberais, negociantes, aposentados, vêm ao Litoral, avassaladoramente, os desterrados de hoje, homens e mulheres sem estudo e qualificação, atrás de oportunidades negadas na origem.

A política barriga-verde espelha esse movimento.

Sua queda é resultado da queda do povo que vive aqui – agora sob outra maioria, mais suscetível à demagogia, ignorante da história, sem identidade e raízes, que veio para arrancar em poucos anos a riqueza de uma vida inteira.

Sobra ambição, falta amor pelo chão, pelo ar e pelas maravilhas que as retinas captam aqui e ali.
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Há outra circunstância que acelerou o desenraizamento: Santa Catarina não foi capaz de produzir e sustentar uma mídia autóctone e os gaúchos, desde os anos 80, controlam-na por aqui.

A falta de uma longa – muitas vezes secular – relação com o poder, economia, pessoas e o meio social e cultural, alienou a crítica.
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As consequências dessa mudança na paisagem humana estão em todos os lugares: no aumento da criminalidade, na ocupação desordenada, na favelização, no uso indevido dos meios de comunicação, no empobrecimento da práxis política, na mansidão dos que não podem ser subservientes, entre outros.

Tudo para gozo, deleite e riqueza de uma elite local, amancebada com os novos exploradores.
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O blog escolheu dois casos, vividos sob este céu mais belo que o céu das outras terras, para demonstrar a tese: primeiro a entrevista do chefe da Defesa Civil ao jornalista Mário Mota, na CBN, ontem, 8 de janeiro.

O Diário Catarinense publicou imagens de donativos às vítimas da chuva e da lama ao desabrigo do tempo. O radialista repercutia a notícia do jornal, abrindo espaço para as explicações.

A resposta do chefe da Defesa Civil: não bastasse o transtorno e o tempo tomado pelas ocorrências reais, trágicas, ainda era obrigado a responder denúncias mequetrefes e irresponsáveis.

Quem ouve, não vê. Quem vê, constata. Quem escutou e viu, compara.

A Defesa Civil que agora encara a mídia e dá esporro ao vivo, deletou covardemente do seu site o alarme publicado em 23 de novembro:

- 08:20hs - Alarme: enchentes no Vale. A situação ainda é considerada crítica pela Defesa Civil, que já contabiliza 4.388 desabrigados e desalojados e oito mortes confirmadas. Na manhã deste domingo o departamento emite um alarme para Blumenau e todo o Vale do Itajaí.

Foi o alarme mais tardio da nossa breve história. Ao invés de salvar vidas, esse dia marcou a escalada das mortes.

Segundo: a decisão do Tribunal de Contas de instaurar Tomada de Contas Especial no caso da recuperação do Mercado Público de Florianópolis, chamando à responsabilidade os irmãos Dário e Djalma Berger, na época, respectivamente prefeito e secretário de Obras da capital.

Pagamento a maior, segundo a análise preliminar do TCE, em cerca de R$ 2 milhões.

Como é possível a Defesa Civil simplesmente deletar "alarme" do site? E por que depois de tantos indícios de maracutaia os irmãos Berger se elegeram prefeitos de São José e de Florianópolis, dando um banho de voto nos adversários?

O acaso não existe. Estes são sinais da degenerescência de um povo. Nós.

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