O mito do grande corrupto
Blog “O Jumento” (Lisboa) ; 17/4/2009
O grande corrupto de que todos falam é o fim de uma imensa “cadeia alimentar” que vai desde o pequeno favor de balcão ao político que chega à capital com uma mão atrás e outra à frente. Comete-se um grande erro ao imaginar que o grande corrupto é um espertalhão que ganhou uns milhões para que outro possa embolsar muitos milhões.
A corrupção não se alimenta de fenómenos isolados nem resulta de actuações individuais, na maior parte dos casos é mantida por uma imensa teia de cumplicidades.
Esta imensa rede de cumplicidade é transversal aos partidos, acima da militância política está a solidariedade com o grupo. É graças a essa solidariedade que se conseguem as nomeações ou reconduções nos cargos mais lucrativos, que se vão conquistando os lugares importantes. É por isso que algumas personalidades da nossa praça sobrevivem às mudanças de governo.
A corrupção alimenta-se da nossa cultura, como portugueses somos demasiado transigentes com a corrupção, recorremos muitas vezes aos seus favores, mas não lhe chamamos corrupção, optamos por termos como “cunha” ou “favor”. No nosso dia a dia fazemos e recebemos favores, tornamo-nos solidários com quem nos ajuda, acabamos por aprender a viver com o “esquema”.
Essa cultura não se limita ao nosso dia a dia, está presente em muitas organizações e muitas vezes chega mesmo a dominar importantes cargos de decisão. Em muitos serviços são os honestos e não os menos honestos ou mesmo corruptos que são desvalorizados ou mesmo perseguidos, quem é rigoroso recebe adjectivos bem mais desagradáveis do que os que são dados às facilidades.
Mais importante do que sonhar com a prisão de grandes corruptos é acabar com uma cultura que favorece e estimula a corrupção.
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